No ano de 2006, em parceria com a Secretaria de Educação de São Félix do Xingu, desenvolvemos um curso para professores que trabalhavam em área indígena.
Kikretũm era uma das aldeias contempladas pelo curso. A escola, moderna e recém-construída, recebeu o nome do famoso Cacique Tuto Pombo Kayapó, fundador da aldeia, falecido em 1992.
O filho do Cacique Pombo liderava a aldeia. Era um homem cristão, chamado Kô’ãtor Kayapó.
Foi durante esse curso, que conheci Bekrôti, filho de Kô’ãtor e professor da Escola Indígena Tuto Pombo. Era um rapaz muito inteligente e ávido por aprender. Com frequência reuníamos os alunos para um momento de cânticos e histórias bíblicas. Bekrôti sempre tinha muitas perguntas sobre a Bíblia, sobre Jesus e a vida cristã. Mas cada vez que eu perguntava se ele gostaria de entregar sua vida a Cristo, sua resposta era a mesma: “Ainda não. Talvez quando eu for mais velho!”
Desde adolescente, Bekrôti lia com atenção a Palavra de Deus, principalmente um exemplar do Evangelho de Marcos, que pertencia a seu pai. Ele amava a leitura das Escrituras, mas não estava disposto a seguir Seus Ensinamentos.
A esposa de Bekrôti, Nhàkdjô, desafiava o marido com frequência a servir a Jesus juntamente com ela. No entanto, ele sempre protelava. Em uma ocasião, quando estava doente, falou que quando ficasse curado, começaria a frequentar os cultos, mas ao melhorar, não levou em frente sua decisão.
Em fevereiro de 2019, sua saúde foi fortemente abalada. Com a suspeita de um grave problema cardíaco, percebeu que sua vida poderia estar chegando ao fim. Depois de passar por vários médicos e realizar diversos exames fora do município, Bekrôti, ficou na casa que seu pai mantinha em Tucumã. Uma grande tristeza invadiu seu coração ao saber que tudo nesta vida é passageiro e finito. Ansiando pela vida eterna, não quis mais protelar sua decisão e nos chamou para orar por ele. Fomos acompanhados pelo missionário Iprẽre Kayapó, e naquele dia, tivemos a alegria de vê-lo realmente convicto e entregando sua vida a Jesus. Diariamente íamos até sua casa, orando, fortalecendo e discipulando nosso irmão. Sempre éramos recebidos com muitas perguntas, e a cada visita percebíamos sua Fé estava se fortalecendo. Próximo ao final de semana, Bekrôti nos chamou e fez um pedido: Queria que no domingo, (24/02/2019), Bekrojti (o Missionário Paulo) o levasse até a aldeia Turedjãm para participar do culto. Além de ser a aldeia mais próxima de Tucumã, era onde seus sogros moravam, e seu desejo era fazer sua profissão pública de fé em Jesus!
No dia 28 de outubro de 2019, o pastor Alvacyr Costa, assessorado pelo Missionário Paulo da Silva, batizou Bekrôti e sua esposa, Nhàkdjô, nas águas do Rio Fresco, na aldeia Kikretũm.
Daí para frente, sua vida espiritual só foi crescendo. Bekrôti se integrou completamente nas atividades da Igreja, inclusive como cantor e compositor de belos hinos. Sua saúde foi restaurada e ele tem sido convidado para cantar e pregar em conferências bíblicas de diversas aldeias da região.
Bekrôti atualmente reside na aldeia Kẽnongôre. É formado pela Universidade Estadual do Pará – UEPA – em Licenciatura Intercultural Indígena, e agora está finalizando nosso Curso Bíblico para Obreiros Indígenas.
Texto: Eunice Costa da Silva – Missionária atuante na Missão Indígena Batista Conservadora – MIBAC – Base na cidade Ourilândia do Norte/PA
Bekrôti fez sua profissão pública de fé na mesma semana que aceitou a Cristo
Batismo de Bekrôti, nas águas do Rio Fresco, conduzido pelo pastor Alvacyr Costa, com o auxílio do missionário Paulo da Silva
Com seus colegas de Seminário (Centro Mebêngôkre de Treinamento Bíblico – CMTB) durante as aulas práticas
Prática evangelística na Casa de Saúde Indígena – CASAI – na cidade de Tucumã
Bekrôti e o pastor Alvacyr Costa, professor da disciplina de Doutrinas Bíblicas do CMTB
Da esquerda à direita: Os missionários Eunice da Silva e Paulo da Silva, Bekrôti e sua esposa, Nhàkdjô, em um encontro de Obreiros na Aldeia Môxdjãm
Inteligente e ávido por aprender, irmão Bekrôti Kayapó é formado pela Universidade Estadual do Pará – UEPA – em Licenciatura Intercultural Indígena, e agora está finalizando o Curso Bíblico para Obreiros Indígenas do CMTB